terça-feira, 9 de abril de 2013

Resposta ao senhor Cláudio Botelho.



"ONTEM LI NO GLOBO algo que me deixou cabreiro. Uma matéria se referia a um sujeito como "um dos nomes mais representativos do teatro carioca", ou algo parecido com isso. Ora, eu vivo numa bolha, tá certo. Me desculpem, sou alienado, não sei qual é a música famosa do The Cure. Mas do meu negócio eu entendo. E o sujeito descrito na matéria como "mais representativo" (ou algo similar) é alguém do circuito alternativo. Mais que isso, é o alternativo do alternativo. Ora, vamos ser francos... No Brasil não existe teatro alternativo, isso é uma conversa mole. O que existe é um teatro feito para ninguém ir, ou quem vai são os amigos ou parentes, ou são outros "alternativos", ou alunos de escola de teatro, não é público, não pagam ingressos. Ponto. Isso aqui é o Brasil, não é o Brooklyn. Então quando o Globo anuncia que o sujeito é "um dos mais do teatro", sendo que nem a mãe dele deve achar isso, fico pensando se eu vivo mesmo numa bolha e enlouqueci de vez, please me receitem Haldol urgente... Ou então que um "release" é capaz de convencer alguém a publicar que - pra usar uma comparação bem direta e compreenísvel - "o Grande destaque do Carnaval do Rio neste ano foi a Escola de Samba Do Playground Do Edifício Balança Mais Não Cai." Beija Flor, Mangueira, Salgueiro: tudo pé-de-chinelo. O Balança é que veio com tudo. Ah, me poupe!"
Cláudio Botelho


Este cidadão, que há anos não cria quase nada, apenas reproduz, está falando de mim e de todos os que sobrevivem de teatro sem apoios e patrocínios gigantescos, quando diz que o Teatro Alternativo não existe. “No Brasil não existe teatro alternativo, isso é uma conversa mole. O que existe é um teatro feito para ninguém ir, ou quem vai são os amigos ou parentes, ou são outros "alternativos", ou alunos de escola de teatro, não é público, não pagam ingressos.” E as pesquisas dramatúrgicas e cênicas realizadas em Universidades e Escolas de teatro Brasil afora? É de uma ignorância e arrogância sem limite esse tipo de opinião. Já assisti espetáculos da dupla Moeller e Botelho e há qualidades sim. A parte técnica sempre impressiona: iluminação caprichada, cenários e figurinos de impressionar, belos arranjos nas músicas. Mas e o trabalho de ator? Deixa muitas vezes a desejar. O de direção então nem se fala. E a inovação? A pesquisa? A emoção? A plateia saindo tocada e emocionada? Ou incomodada mesmo? Não existe.

Quando ele sobe nesse pedestal e vocifera e cospe “pra baixo”, é como se ele fosse o supra-sumo da qualidade e nada mais existisse de bom sendo produzido. Será uma amargura porque eles NUNCA estão entre os indicados aos prêmios de teatro? Doutores, estudiosos e críticos em arte, afirmam que todas as mudanças e novas possibilidades para os caminhos do teatro contemporâneo surgem do chamado Teatro Alternativo. Esse mesmo teatro que ele diz que ninguém assiste, já que “amigos e parentes não são público” (será que ele tem plateias de inimigos? Deus me livre!). Justamente por não ter a pressão de ser apenas um produto comercial, é que se permite a experimentação, o novo, o desconhecido. Permite-se não abrir exceções para o lugar-comum, o riso fácil. Dá-se tempo para o ator vivenciar aquilo que está encenando e não apenas decorar marcas e falas porque a estreia é daqui a dois meses e os diretores já têm mais 5 espetáculos sob encomenda.
A fala deste cidadão é um desrespeito com todos os grandes autores, diretores, atores e profissionais que lutam pra fazer uma arte que vá além de apenas lotar um teatro. Baile funk vive cheio. Zorra Total tem audiência cativa. E cá entre nós, nem todos os espetáculos do senhor Botelho lotam, principalmente em São Paulo. Os números em si, não são sinônimos de qualidade. Claro que todo mundo deseja mostrar o seu trabalho para o maior número de pessoas e acredite; quem vive e sobrevive com o chamado teatro alternativo trabalha muito por isso.
Senhor Botelho: Saia da sua redoma de vidro, estude um pouco mais, conheça novos ares. Teatro não se resume a uma cópia de Broadway. Tem muita gente, mas muuuuita gente que dá um duro danado estudando e trabalhando pra que novos horizontes se abram e para que o Teatro não se transforme numa TV ao vivo.

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