Cena da novela "A Vida da Gente" de Lícia Manzo, originalmente protagonizada por Fernanda Vasconcelos e Marjorie Estiano.
MANU – Obrigada pelo convite, mas... Na verdade eu já tinha falado pra Júlia que eu não vou poder ir por que...
ANA – Justamente, Manuela. Por quê?
MANU – Porque eu tenho trabalho nesse dia.
ANA – Domingo? No final da tarde?
MANU – Ana, por favor...
ANA – Por favor, digo eu Manuela... Meses já se passaram e nada justifica que você continue desse jeito.
MANU – Tá, pra você... Pra você talvez... Agora não cabe a você julgar o que eu sinto.
ANA – Eu não to julgando nada... Ao contrário, é você que tá me julgando. Aliás, você tá me condenando por conta de um erro que eu cometi...
MANU – Um erro que destruiu muita coisa, Ana. A minha confiança, por exemplo.
ANA – Desculpa, mas isso ninguém consegue destruir. A não ser que você queira. Se coloca no meu lugar...
MANU – É impossível. Porque eu já disse e repito que no seu lugar, eu jamais teria feito uma coisa dessas.
ANA – Caramba, Manuela! Você fala de um jeito que parece que eu matei. Parece...
MANU – Mas você matou! Você matou a nossa amizade. Você matou a minha confiança, você matou o amor que eu sentia e pior ainda: pra nada! Por mero capricho!
ANA – Como assim capricho? Do que você tá falando? Capricho?
MANU – Eu to falando de você ter destruído a minha relação com o Rodrigo pra nada! Porque nem coragem de bancar essa decisão, você teve! Quando eu decidi ficar com o Rodrigo lá atrás, Ana, todo mundo dizia que seu coma não tinha mais volta. Mas ainda assim foi difícil bancar a decisão de me casar com ele e eu banquei! Você sabe por quê? Porque eu sou adulta! Porque eu não daria um passo de uma decisão desse tamanho envolvendo a Júlia, pra depois amarelar e voltar atrás...
ANA – Eu não amarelei coisa nenhuma!
MANU – Eu banquei porque eu amava o Rodrigo com todo meu coração, era de um jeito que você não faz ideia, de um jeito que você não vai entender nunca, porque você não sabe o que é isso, Ana! Amor! Você usa as pessoas, Ana... Você é o centro do Universo. E até a atenção exagerada que a mamãe sempre te deu a vida inteira e que você dizia detestar; hoje eu me pergunto se ela não te cabia muito bem, já que pelo visto...
ANA – Eu não vou levar em consideração o que você tá falando, Manuela... Você tá magoada e...
MANU – Magoada? Magoada é pouco, eu to destruída há meses, tentando refazer a minha vida e por essa razão você não tem o direito de se fazer de vítima e vir até aqui, falando que o fato de eu ter me afastado de você é uma injustiça!
ANA (sincera e desarmada) – Desculpa... O que é que eu posso fazer pra você me perdoar?
MANU – Se afastar de mim, Ana! Me deixar em paz! Isso você pode fazer! E começa também a tomar cuidado com as outras pessoas, com o que elas sentem, porque pelo visto...
ANA – Pelo visto o que?
MANU – Pelo visto você continua fazendo a mesma coisa... Só que a vítima dessa vez é o Lúcio.
ANA – Que história é essa, Manu, de vítima? Tudo tem limite, viu Manuela? Eu não vou admitir que você fale da minha relação com o Lúcio...
MANU – Da sua o quê? Da sua relação? Relação? Relação implica em duas partes. Uma percebendo a outra, uma cedendo em nome da outra. Você não tem e nunca vai ter relação com ninguém... Sedução é uma coisa, e nisso eu admito... Nisso eu concordo que você é muito boa. Tem flerte, encantamento... Namoro... Agora, o seu repertório para por aí. E sabe por quê? Porque pra ter uma relação é preciso existir respeito mútuo. E você não respeita... Ninguém... Nem nada... A não ser sua própria vontade.
(silêncio)
ANA – Se o tom da conversa é esse... Desculpa, mas eu vou embora...
MANU (irônica) – Isso... Muito bom, vai embora. Vai embora... Nem uma conversa difícil você é capaz de bancar. É isso mesmo que você faz... Vai embora, foge, dá as costas, vai embora e deixa que os outros depois arrumem o caos que você deixou...
ANA – Escuta aqui! Quem você pensa que é pra subir aí nesse seu pedestal e vir me falar de coragem? Quando na verdade...
MANU – Na verdade o quê? Do que você tá falando?
ANA – Da sua covardia... Do seu golpe baixo, de ter deixado a minha filha no momento que ela mais precisava de você!
MANU – Eu fui embora porque eu precisava. Porque eu não tinha condições naquele momento.
ANA – Ai, não tinha condições? Coitadinha, né? Não tinha condições de agir feito a adulta que você diz que é pra ajudar a própria filha?
MANU – Eu não deixei a Júlia sozinha, ela também é sua filha!
ANA – Claro! Agora que te interessa eu também sou a mãe dela!
MANU – Olha aqui, é melhor a gente encerrar essa conversa.
ANA – Melhor pra quem?! Pra você? Porque é muito fácil você apontar o dedo na minha cara como se você fosse íntegra! Como se você fosse certa!
MANU – Ah, me desculpa Ana, mas perto de você...
ANA – Perto de mim, o quê? Você, Manuela, você é o centro do universo. Você deu as costas pra minha filha no momento que ela mais precisou de você! Você deixou ela se desestabilizar, você deixou ela sofrer, me rejeitar... Porque assim... Assim você se afirmava a mãe verdadeira né? A mãe perfeita... E ainda de quebra, destruiu qualquer possibilidade de entendimento entre mim e o Rodrigo. Você me acusa de ter amarelado, de ter voltado na minha decisão, mas fique sabendo que eu não fiquei com ele por sua causa, porque você minou essa relação quando se recusou a fazer uma ponte entre mim e a Júlia! Sabe por quê? Pra se vingar... Se vingar do fato do Rodrigo ainda me amar.
MANU – CALA A BOCA, ANA! CALA A BOCA! Eu não sou obrigada a ficar ouvindo isso na minha casa!
ANA – É obrigada sim porque essa casa aqui deveria ser minha! Essa vida deveria ser minha e a Júlia É MINHA FILHA! Não é sua filha! Você ouviu bem? E a minha história com o Rodrigo, ela foi abortada duas vezes. A primeira pela minha mãe e a segunda por você... Que impediu que a gente tentasse... Quer saber? Não adianta Manuela... Não adianta... Mesmo que a gente não fique junto, mesmo que o mundo inteiro impeça, o amor que a gente sente um pelo outro vai continuar existindo... (Ana desmonta e chora.).
Silêncio.
ANA – A gente
pode conversar? (tempo)
MANU – Obrigada pelo convite, mas... Na verdade eu já tinha falado pra Júlia que eu não vou poder ir por que...
ANA – Justamente, Manuela. Por quê?
MANU – Porque eu tenho trabalho nesse dia.
ANA – Domingo? No final da tarde?
MANU – Ana, por favor...
ANA – Por favor, digo eu Manuela... Meses já se passaram e nada justifica que você continue desse jeito.
MANU – Tá, pra você... Pra você talvez... Agora não cabe a você julgar o que eu sinto.
ANA – Eu não to julgando nada... Ao contrário, é você que tá me julgando. Aliás, você tá me condenando por conta de um erro que eu cometi...
MANU – Um erro que destruiu muita coisa, Ana. A minha confiança, por exemplo.
ANA – Desculpa, mas isso ninguém consegue destruir. A não ser que você queira. Se coloca no meu lugar...
MANU – É impossível. Porque eu já disse e repito que no seu lugar, eu jamais teria feito uma coisa dessas.
ANA – Caramba, Manuela! Você fala de um jeito que parece que eu matei. Parece...
MANU – Mas você matou! Você matou a nossa amizade. Você matou a minha confiança, você matou o amor que eu sentia e pior ainda: pra nada! Por mero capricho!
ANA – Como assim capricho? Do que você tá falando? Capricho?
MANU – Eu to falando de você ter destruído a minha relação com o Rodrigo pra nada! Porque nem coragem de bancar essa decisão, você teve! Quando eu decidi ficar com o Rodrigo lá atrás, Ana, todo mundo dizia que seu coma não tinha mais volta. Mas ainda assim foi difícil bancar a decisão de me casar com ele e eu banquei! Você sabe por quê? Porque eu sou adulta! Porque eu não daria um passo de uma decisão desse tamanho envolvendo a Júlia, pra depois amarelar e voltar atrás...
ANA – Eu não amarelei coisa nenhuma!
MANU – Eu banquei porque eu amava o Rodrigo com todo meu coração, era de um jeito que você não faz ideia, de um jeito que você não vai entender nunca, porque você não sabe o que é isso, Ana! Amor! Você usa as pessoas, Ana... Você é o centro do Universo. E até a atenção exagerada que a mamãe sempre te deu a vida inteira e que você dizia detestar; hoje eu me pergunto se ela não te cabia muito bem, já que pelo visto...
ANA – Eu não vou levar em consideração o que você tá falando, Manuela... Você tá magoada e...
MANU – Magoada? Magoada é pouco, eu to destruída há meses, tentando refazer a minha vida e por essa razão você não tem o direito de se fazer de vítima e vir até aqui, falando que o fato de eu ter me afastado de você é uma injustiça!
ANA (sincera e desarmada) – Desculpa... O que é que eu posso fazer pra você me perdoar?
MANU – Se afastar de mim, Ana! Me deixar em paz! Isso você pode fazer! E começa também a tomar cuidado com as outras pessoas, com o que elas sentem, porque pelo visto...
ANA – Pelo visto o que?
MANU – Pelo visto você continua fazendo a mesma coisa... Só que a vítima dessa vez é o Lúcio.
ANA – Que história é essa, Manu, de vítima? Tudo tem limite, viu Manuela? Eu não vou admitir que você fale da minha relação com o Lúcio...
MANU – Da sua o quê? Da sua relação? Relação? Relação implica em duas partes. Uma percebendo a outra, uma cedendo em nome da outra. Você não tem e nunca vai ter relação com ninguém... Sedução é uma coisa, e nisso eu admito... Nisso eu concordo que você é muito boa. Tem flerte, encantamento... Namoro... Agora, o seu repertório para por aí. E sabe por quê? Porque pra ter uma relação é preciso existir respeito mútuo. E você não respeita... Ninguém... Nem nada... A não ser sua própria vontade.
(silêncio)
ANA – Se o tom da conversa é esse... Desculpa, mas eu vou embora...
MANU (irônica) – Isso... Muito bom, vai embora. Vai embora... Nem uma conversa difícil você é capaz de bancar. É isso mesmo que você faz... Vai embora, foge, dá as costas, vai embora e deixa que os outros depois arrumem o caos que você deixou...
ANA – Escuta aqui! Quem você pensa que é pra subir aí nesse seu pedestal e vir me falar de coragem? Quando na verdade...
MANU – Na verdade o quê? Do que você tá falando?
ANA – Da sua covardia... Do seu golpe baixo, de ter deixado a minha filha no momento que ela mais precisava de você!
MANU – Eu fui embora porque eu precisava. Porque eu não tinha condições naquele momento.
ANA – Ai, não tinha condições? Coitadinha, né? Não tinha condições de agir feito a adulta que você diz que é pra ajudar a própria filha?
MANU – Eu não deixei a Júlia sozinha, ela também é sua filha!
ANA – Claro! Agora que te interessa eu também sou a mãe dela!
MANU – Olha aqui, é melhor a gente encerrar essa conversa.
ANA – Melhor pra quem?! Pra você? Porque é muito fácil você apontar o dedo na minha cara como se você fosse íntegra! Como se você fosse certa!
MANU – Ah, me desculpa Ana, mas perto de você...
ANA – Perto de mim, o quê? Você, Manuela, você é o centro do universo. Você deu as costas pra minha filha no momento que ela mais precisou de você! Você deixou ela se desestabilizar, você deixou ela sofrer, me rejeitar... Porque assim... Assim você se afirmava a mãe verdadeira né? A mãe perfeita... E ainda de quebra, destruiu qualquer possibilidade de entendimento entre mim e o Rodrigo. Você me acusa de ter amarelado, de ter voltado na minha decisão, mas fique sabendo que eu não fiquei com ele por sua causa, porque você minou essa relação quando se recusou a fazer uma ponte entre mim e a Júlia! Sabe por quê? Pra se vingar... Se vingar do fato do Rodrigo ainda me amar.
MANU – CALA A BOCA, ANA! CALA A BOCA! Eu não sou obrigada a ficar ouvindo isso na minha casa!
ANA – É obrigada sim porque essa casa aqui deveria ser minha! Essa vida deveria ser minha e a Júlia É MINHA FILHA! Não é sua filha! Você ouviu bem? E a minha história com o Rodrigo, ela foi abortada duas vezes. A primeira pela minha mãe e a segunda por você... Que impediu que a gente tentasse... Quer saber? Não adianta Manuela... Não adianta... Mesmo que a gente não fique junto, mesmo que o mundo inteiro impeça, o amor que a gente sente um pelo outro vai continuar existindo... (Ana desmonta e chora.).
Silêncio.
MANU- Para... E
ouve... Ouve o que você acabou de dizer... Você acabou de dizer que o seu amor
pelo Rodrigo continua existindo ao mesmo tempo em que você vem aqui com esse
convite de casamento idiota na mão.
ANA – Eu não quis dizer isso em relação ao Rodrigo...
MANU – Você nunca quer dizer nada, não é? Você é sempre bem-intencionada. Mas deixa eu te falar uma coisa, Ana... De boas intenções o inferno tá cheio... E sendo assim... Libera o Lúcio, vai... Ele é um cara bacana, ele não merece ser usado por alguém como você...
ANA – Eu não quis dizer isso em relação ao Rodrigo...
MANU – Você nunca quer dizer nada, não é? Você é sempre bem-intencionada. Mas deixa eu te falar uma coisa, Ana... De boas intenções o inferno tá cheio... E sendo assim... Libera o Lúcio, vai... Ele é um cara bacana, ele não merece ser usado por alguém como você...
(Ana está aos prantos e encara a irmã. Atônita, sai de cena.Agora
Manuela também chora).
Cena forte, tensa e emocionante...
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