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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Preciso dizer que te amo - Cena 1

Luz abre aos poucos. Dé está em cena, assiste TV. Jonas entra, joga a mochila no chão com violência e senta ao lado de Dé. Silêncio. Os dois encaram a TV. Dé olha pra Jonas e volta pra TV. 

DÉ – E aí, como é que foi lá?

Jonas não responde. Está furioso, segurando pra não chorar. Dé insiste.

DÉ – Ok, você não quer falar, mas eu quero saber, porra. Como foi lá, o julgamento? – Jonas não responde ainda. – Jonas!

JONAS – Não teve merda de julgamento nenhum, Dé! O advogado daquele filho da puta conseguiu adiar de novo! Apresentou uma papelada lá que eu não entendi direito e agora só daqui a três meses pra ter outro julgamento. E enquanto isso, você sabe onde ele vai aguardar né? Na mansão dele, fazendo a faculdade dele, levando a vidinha escrota de playboy dele...

DÉ – Putz, cara... E o pai da Alice? E o promotor?

JONAS – O pai dela ficou arrasado... Depois ele me explicou que o promotor não teve saída, teve que aceitar o pedido de adiamento. É uma daquelas “brechas da lei” que só funciona pra rico.

DÉ – Cara, que merda... Já vai fazer um ano do acidente né?

JONAS – 2 de agosto. No dia do aniversário da Clara.

DÉ – E o cara ainda tá solto. É inacreditável, Jonas...

JONAS – É porque não foi o contrário, saca? Se a Alice tivesse provocado o acidente e matado o filhinho do deputado, essa hora ela tava cumprindo um ano de prisão. Mas não... Foi ela que morreu. E o pai dela não é ninguém nessa merda de país, entende? É só um comerciante, que levanta todo dia cedinho, rala pra caramba pra dar emprego pra umas dez pessoas, paga uma porrada de imposto em dia e a única coisa que ele queria na vida era ver a filha formada... Só isso que ele queria, Dé!

Jonas levanta e se afasta. Não quer que Dé o veja chorando.

DÉ – E você? O que você quer da vida agora, Jonas?

JONAS – Eu quero... Eu nem sei o que eu quero... É o clichê mais tosco do mundo, mas eu realmente queria, eu daria qualquer coisa pra acordar desse pesadelo. Acordar do lado dela sabe? Ver aquele cabelo ruivo, a pele branca dela numa camiseta velha minha, ela se amarrava em dormir com as minhas roupas. Ela dizia que ficar com o meu cheiro fazia com que ela sonhasse comigo. Eu queria ouvir ela roncar baixinho como ela roncava, nem que fosse só mais uma vez. E ela acordava às vezes com o próprio ronco e aí a gente caía na risada no meio da noite... De vez em quando eu acordo de madrugada porque eu sonho com ela acordando e rindo... Eu quase ouço a voz dela, Dé... E... É uma dor do tamanho de um prédio, saca? Eu tô de saco cheio desse vazio... Desse buraco no meu peito que já dura um ano! Eu não aguento mais essa saudade filha da puta!

Jonas cai no choro. Dé o abraça fortemente. A luz vai baixando lentamente sobre os dois.